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Rio2C: terceiro dia tem estrelas da música como destaques

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Ludmilla, Kondzilla, Dilsinho: o terceiro dia de Rio2C foi marcado pela presença de grandes astros da música pop, que lotaram seus painéis. Na variedade de temas que compõem o maior evento de criatividade da América Latina, houve espaço também para discussões setoriais importantes do audiovisual (com executivos do MinC, da Ancine e da RioFilme) e apresentações de novos projetos de grandes players para cinema, TV e streaming.

Unindo dois dos universos que participam do Rio2C, Konrad Dantas, o Kondzilla, foi entrevistado no painel Lições da Música para o Audiovisual. O produtor paulista, dono do maior canal brasileiro no YouTube (com mais de 66 milhões de inscritos e 37 bilhões de visualizações), vem ampliando sua atuação no segmento com a produção de obras de sucesso, como a série “Sintonia”, um dos projetos nacionais mais assistidos da Netflix.

A partir de sua bem-sucedida experiência, ele citou como o modelo de marketing musical pode servir ao audiovisual. “O ‘esquenta’, a divulgação prévia, é muito importante. É algo que eu não vejo nas experiências que tive com as plataformas: estamos envolvidos com o projeto há anos e os times de marketing das plataformas muitas vezes nem assistiram a eles. Se as plataformas não têm tempo para esse marketing pré-lançamento, deixa as produtoras fazerem”, afirmou Kondzilla.

O empresário também destacou o senso de urgência da indústria musical, ciente de que as obras têm um período curtíssimo para estourar no digital, e que as estratégias de divulgação precisam seguir o mesmo passo. “A audiência é o principal indicador de sucesso. Na música, o indicador hoje é visualização no YouTube e posição no Spotify. O YouTube atualiza a audiência em real time, o Spotify em 24h. Se eu não tiver uma peça de marketing que funcione dentro desse tempo, já não serve mais. Em algumas horas, a situação da obra pode já ter mudado. A gente promove o print da posição que a obra ficou, se isso não acontecer em menos de uma hora, não precisa mais fazer.”

Kondzilla também tocou em um dos grandes temas em debate no audiovisual brasileiro atualmente, a luta pelo reconhecimento dos direitos autorais. “Estamos dando de graça nossa propriedade intelectual. Na gravadora, o talento ganha a porcentagem como autor ou intérprete até depois de sua morte. Temos de trazer isso para o audiovisual, tem de haver regulação, temos de defender nossos direitos como autores. A música está muito mais avançada nesse sentido.”

Mesmo na música, no entanto, há questões que precisam ser resolvidas, como a da remuneração dos criadores. “A diferença entre o que geramos de audiência e o retorno econômico é imensa. Somos o terceiro país no Spotify, mas nossa receita representa só 1,7% da indústria. Se nosso alcance é global, por que nossa receita é tão baixa?

Outra estrela musical que falou de suas relações com a indústria foi Ludmilla. Prestes a completar 28 anos (em 24 de abril), ela repassou sua bem-sucedida trajetória em conversa com a jornalista Aline Midlej.

“Tomei muita porrada, aprendi na prática, sem ninguém pra me ensinar, e sigo aberta para aprender. Hoje em dia sou dona da minha carreira, da minha música, da minha vida, mas houve momentos em que me senti perdida, não sabia em quem confiar. Nessa indústria, sendo mulher preta, você tem de fazer dez vezes mais. Levei dez anos para chegar ao palco do Rock in Rio”, disse a artista. “Com essa loucura de streaming hoje em dia, há uma exigência de estar no topo por parte da indústria, você acaba se cobrando demais. Depois parei para pensar que eu sempre fui uma artista que arrastava multidões nos shows sem nunca estar bombando nos streamings.”

Em modo sincero, a artista dividiu com o público suas impressões sobre os erros cometidos no lançamento de sua obra mais recente. “Acabei de lançar um álbum pop chamado ‘Vilã’, com 15 faixas. Para um artista lançar um álbum leva muito tempo, nós temos muitas inseguranças, eu não estava preparada para lançar o álbum agora. Mas apareceu uma oportunidade de marketing e ficamos tão focados nisso que eu me esqueci dos problemas e decidimos lançar o álbum sem estratégia. O resultado não foi o que a gente esperava, e eu fiquei frustrada. Entendi que preciso mesmo confiar no meu instinto. Dediquei energia, tempo, trabalho, mas não vou deixar morrer, vou dar meu máximo agora para ela virar o que eu queria.”

Mais cedo, Dilsinho também provocou uma imensa fila para o seu painel, Dilsinho: o Diferentão: Collabs e uma Fábrica de Mega Hits. Durante uma hora, ele contou como construiu a imagem e consolidou o seu nome no mercado, em uma estratégia que privilegiou encontros e duetos com astros de diferentes segmentos musicais, como pagode, axé, sertanejo e funk. As mudanças de estilo e visual para cada momento fazem parte de um processo em que se entendeu como marca.

Dilsinho relembrou que foi demitido de sua primeira gravadora após não corresponder às expectativas no primeiro momento. Em uma época em que o digital ainda engatinhava, ele se viu com o primeiro CD nas mãos e um público consumidor que não comprava mais discos. Foi quando ele decidiu correr o risco e bancar um clipe gravado nos Estados Unidos e começou a idealizar as parcerias com outros nomes e a mistura bem-sucedida do pagode com gêneros diversos, que o tornou um dos artistas mais ouvidos do Brasil. “Quando você grava com alguém de outro universo, você leva o seu trabalho a pessoas que não te conhecem. Algumas dessas canções eu corri atrás mesmo, mandei uma dm para a Ivete e ela veio cantar comigo”, relembrou.

O debate do mercado musical foi iniciado de manhã com O Futuro dos Shows: Insights, Tendências e Como a Indústria da Música Está se Adaptando, painel que reuniu Maria Juçá, diretora do Circo Voador, a gestora Carolina Santos, do festival Sarará (MG), e o empresário Afonso Carvalho, responsável pela carreira de Diogo Nogueira. Os desafios dos artistas de médio porte, o imenso crescimento dos festivais pelo país e a viabilidade de uma casa de espetáculos foram alguns dos temas que marcaram a discussão.

Eles ressaltaram ainda a importância de todas as pontas do setor se entenderem como um único ecossistema, para evitar prejuízos em qualquer um dos lados. Carolina ressaltou ainda que os custos triplicaram após a pandemia e que um orçamento de 2019 para um evento hoje não consegue mais se viabilizar.

AUDIOVISUAL

 

Abrindo o dia no Global Stage, o casal alemão Jantje Friese e Baran bo Odar, que criou e produziu as séries “Dark” e “1899, da Netflix, agradeceu o convite para sua primeira vinda à América do Sul e elogiou extensamente o Rio — onde passaram a quarta-feira circulando como anônimos, andando de metrô, indo à praia e fazendo programas cariocas. A dupla falou sobre a transição no susto que fizeram de produtores de longas-metragens para criadores de uma série como “Dark”. “Na primeira temporada, não tínhamos ideia de como fazer uma série. Fizemos como um filme, e isso foi muito benéfico, porque conseguimos criar mudanças ao longo do caminho, porque o início ficou aberto. Foi um longo processo, mas acabamos aprendendo como fazer”, disse Jantje. “Éramos grandes fãs de ‘Lost’ e adoramos enigmas e códigos, ficamos obcecados com isso quando assistimos à série. Queríamos fazer algo assim com ‘Dark’. Funcionou porque há muitos nerds que gostam dessas coisas, como nós”, afirmou Bo.

Mostraram ainda um vídeo com o making of de “1889”, destacando a tecnologia imersiva que foi usada na gravação, com o megatelão chamado “The Volume”, que permitiu criar digitalmente, ao vivo, os cenários para a filmagem. “Planejamos filmar ‘1889’ de maneira tradicional, em locações e com sets imensos em estúdios, mas aí aconteceu a pandemia. Quando a Netflix nos mostrou a tecnologia, vimos que era a solução para os nossos problemas, e nos sentimos como crianças com um brinquedo novo. Quase ninguém havia usado ela ainda, conversamos com os responsáveis por ‘The Mandolarian’, que haviam usado, e eles nos ajudaram muito a não cometer certos erros”, disse Bo.

Discussões setoriais do audiovisual tiveram destaque na manhã de quinta-feira, quando esteve presente o diretor-presidente da Ancine, Alex Braga, no Global Stage. “A agência está encerrando um ciclo de transição. Uma das nossas tarefas foi recolocar a Ancine a serviço da sociedade, para que, como instrumento de uma indústria criativa, ela espelhe nossa sociedade plural, através de uma política de indústria que cuida do incentivo, da infraestrutura, da capacitação dos profissionais, da regulação.”

Braga listou os principais temas legislativos no foco da agência neste ano: “Sabemos que precisamos tratar no Congresso da cota de tela, da cota de programação da TV e do streaming. Vamos contribuir e nos colocar muito claramente nesse processo.”

Ele também louvou a efervescência da atual edição do Rio2C, sintoma da retomada do setor criativo. “Estamos vendo o Rio de Janeiro vivo, pessoas se encontrando nas mesas de negócios, na busca de novas oportunidades, reafirmando não só a força deste mercado, mas a vocação do Rio como capital nacional do audiovisual, porta de entrada do mundo para toda a diversidade do Brasil.”

A valorização da autoria nas obras audiovisuais, principalmente nas feitas para o streaming, foi tema do painel Como Criar uma Indústria Audiovisual Movida a Propriedade Intelectual, que reuniu Marcos Alves de Souza (Secretário de Direitos Autorais e Intelectuais do Ministério da Cultura), Thiago Dottori, presidente da Gedar, sociedade de Gestão Coletiva dos roteiristas, e autor-roteirista da TV Globo, Daniela Busoli (CEO da Formata Produções e Conteúdo Ltda.) e Rafael Ferraz Vazquez, membro da Divisão de Direito de Autor da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).

“Na discussão sobre propriedade intelectual, o roteirista entra muito com o intelectual e pouco com a propriedade. Precisamos avançar na lei (dos direitos autorais). De modo geral, o roteirista tem uma remuneração única, como um prestador de serviço: ele entrega seu trabalho e não tem mais vínculo com a cadeia de exploração econômica daquela obra”, disse Thiago Dottori. “Almejamos uma mudança na lei para sermos vinculados à obra como autores, não como prestadores de serviço, e que sejamos remunerados de acordo com o sucesso da obra. Isso nos dará segurança econômica e tempo para poder criar boas obras, sem precisar emendar um trabalho com o outro.”

Durante a tarde, o painel Primetime RioFilme: Perspectivas para o Fomento Público ao Audiovisual no Brasil reuniu a produtora Glaucia Camargos, o diretor de investimento Mauricio Hirata e Vinicius Clay, membro da Diretoria Colegiada da Ancine. A importância de se debater a Cota de Tela foi o assunto predominante do encontro, que chamou a atenção para a queda de público que o cinema brasileiro teve nos últimos anos, por conta de todas os obstáculos que o setor enfrentou durante o antigo governo.

‘Nenhum filme brasileiro alcançou mais de um milhão de espectadores após a pandemia. A regulação do mercado é realmente uma necessidade inequívoca. A TV aberta não passa filme brasileiro, por exemplo. É preciso combinar investimento e regulação’, comentou Glaucia, seguida por Vinicius, que garantiu a defesa da cota de tela por parte da Ancine em todas as instâncias.

O Global Stage recebeu ainda as apresentações da Warner Bros Discovery e da Amazon, que encerraram a programação desta quinta-feira. Monica Pimentel, vice-presidente de Conteúdo Brasil da Warner Bros. Discovery, celebrou a fusão que marcou a nova fase da companhia e anunciou um novo serviço de streaming para o segundo semestre, com a fusão dos canais da Warner com a Discovery, incluindo a HBO.

O investimento em conteúdo brasileiro e com produção nacional foi destacado como prioridade e uma série de projetos de ficção e não-ficção foram anunciados, como a série Além do Guarda-Roupa, que exibiu um teaser exclusivo, a animação adulta Astronauta e os realities Muquiranas e Quilos Mortais Brasil. A novela Beleza Fatal, de Raphael Montes, foi confirmada com a presença do ator Murilo Rosa, que faz parte do elenco.

A Amazon encerrou a quinta-feira apresentando novos projetos de seus braços de podcasts e audiovisual. A Amazon Music terá três podcasts novos: “Nenê da Brasilândia”, em parceria com a Rádio Novelo, sobre a mulher que foi a maior traficante de São Paulo nos anos 70 e 80 (estreia em 18/4); “Histórias da Firma”, um spin off do bem-sucedido “Não Inviabilize”, capitaneado por Deia Freitas; e um projeto novo do jornalista Chico Felitti (autor de “A Mulher da Casa Abandonada”), que não foi especificado.

Já a Amazon Studios apresentou o longa “O Primeiro Natal do Mundo”, com Lázaro Ramos, Ingrid Guimarães e Fabiana Karla — todos presentes no palco. O baiano também atuará como um dos diretores da tetralogia “Um Ano Inesquecível”, adaptação do livro homônimo.

 

A apresentação foi encerrada com a apresentação de um teaser do capítulo extra da série “Dom”, filmado pelo diretor Breno Silveira, morto no ano passado.

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