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Bola da Vez

João e Pedro Azevedo – fundadores da Maré

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A marca Maré, fundada e liderada pelos irmão João Azevedo e Pedro Azevedo, está comprometida em reduzir o impacto ambiental por meio de sua produção cuidadosamente elaborada com matérias primas descartadas. Todo o processo de produção da marca combina inovação e artesanato e, atualmente, cerca de 85% do processo de fabricação é realizado internamente, em uma oficina própria.

Confira a história e a atuação da Maré nesse bate-papo com os dois empreendedores que prezam pelo processo sustentável de seus produtos.

 

VoxNews – Como surgiu a ideia da Maré?

João e Pedro Azevedo – A Maré nasceu em 2015, entre a copa do mundo e as olimpíadas do Rio. Esse foi um momento de grande renovação da cidade, com obras para todo o lado. Uma das áreas mais afetadas foi a Zona Portuária, onde diversos casarões e galpões antigos foram derrubados. Nessas construções existiam muitas madeiras e madeiras de muita qualidade. Assim começamos a garimpar as caçambas e até pau brasil encontramos por lá. E pensamos: temos que dar uma nova vida a esse material que é tão nobre!

Foi a partir daí que surgiu a ideia de um relógio de pulso. Além de à época existirem poucos e muitas vezes distantes do ideal de relógio, tinha essa coisa do tempo: um novo tempo para o descarte. A partir da definição da caixa do relógio olhamos todas as partes, buscando a reutilização ou a redução do impacto em cada uma delas, nos levando a soluções de pulseira e mostrador também relacionadas a essa lógica.

 

VoxNews – A marca já nasce dentro dos valores de ESG. Como inseri-la em projetos e parcerias de outros segmentos? Já existem exemplos?

João e Pedro Azevedo – A sustentabilidade não está somente no material, mas também nas interações. A grande diferença da Maré para as outras é que temos um olhar holístico. Observamos todo o processo para entender como cada parte pode interagir melhor com o meio ambiente e com a questão social. E é dessa maneira que projetamos não só o produto, mas todo esse sistema ao redor dele. Hoje, trabalhamos muito entrando nas empresas e entendendo seus descartes, para a partir deles organizar esses sistemas e propor produtos e novas praticas a partir do seu próprio lixo. Já atuamos em diversos lugares, de empresas de bebidas a escolas.

 

VoxNews – Além de relógios e óculos, há outros produtos em desenvolvimento pela Maré?

João e Pedro Azevedo – Muitos! Os relógios e óculos são nossa base, exemplos concretos dos nossos processos e crenças. Eles ajudam a mostrar as possibilidades de atuação e de fabricação com o lixo. Isso ajuda a exemplificar as possibilidades para os nossos clientes, em especial os corporativos. Como o nosso foco são nos processos e nos materiais quando nos perguntam o que é possível fazer é até difícil responder. É possível fazer qualquer coisa. Já fizemos bonecos, carteiras, aviamentos (como botões e fivelas), chaveiros, potes de ração para PETs, caixas de embalagem, peças de barco, entre outros. Cada um relacionado aos descartes e necessidades dos nossos clientes.

 

Relógio Maré

 

VoxNews – Como vocês analisam as iniciativas de ESG que vem sendo implementadas por grandes marcas? Elas vieram para ficar?

João e Pedro Azevedo – Sem dúvida. Ainda existe muito greenwashing, no entanto, cada vez mais as grandes empresas estão percebendo que atuar nas causas éticas, ambientais e sociais traz retorno financeiro real. Um ambiente e uma sociedade com danos torna o mercado mais difícil, exige muito mais energia para girar, encarecendo todo o ciclo. Claro que a curto prazo a implementação das iniciativas tem seu custo, mas a médio e longo prazo esses custos se pagam facilmente, além de abrir possibilidades de novas atuações e tecnologias mais limpas.

 

VoxNews – Vocês já identificam no consumidor uma preocupação crescente em consumir marcas mais sustentáveis?

João e Pedro Azevedo – Desde 2015, quando começamos, e cada vez mais essa preocupação aumenta. O volume de informações que se tem hoje é gigantesco, e assim as pessoas ficam mais atentas ao que consomem. Sabem os danos que já foram gerados e quando não buscam uma regeneração, buscam ao menos reduzir os próprios danos que causam ou causaram. Por isso mesmo são também muito exigentes e querem toda a transparência possível, pedindo as marcas, inclusive, posicionamentos mais firmes.

 

VoxNews – Qual o maior objetivo da Maré para 2024?

João e Pedro Azevedo – Nosso principal objetivo para 2024 é ampliar a atuação no campo social. Nos últimos oito anos focamos muito nas questões ambientais. A partir de 2020, com a pandemia, percebemos que a tecnologia que desenvolvemos pode ser fator determinante para a ação em grupos negligenciados. Naquela época iniciamos um trabalho de fabricação distribuída por meio da manufatura aditiva, ou impressão 3D. Junto com parceiros conseguimos distribuir mais de 25 mil unidades de equipamentos de proteção individual – que estavam em falta no mundo todo – para diversas unidades de saúde em todo o Brasil. Isso nos mostrou que essa tecnologia permite uma atuação rápida em contextos complexos com soluções sob medida.

Já em 2021, iniciamos uma parceria com a cooperativa Recicla Rocinha, na comunidade da Rocinha, onde estamos organizando uma logica de fabricação de produtos localmente, feitos a partir do descarte plástico da própria comunidade. Iniciamos com armação de óculos para as crianças que precisam e hoje estamos treinando jovens moradores para o desenvolvimento de seus próprios produtos, em uma célula que conseguimos montar lá dentro.

Para 2024, queremos aprofundar essa relação e expandir esse projeto para outros lugares, que muitas vezes são esquecidos pela grande indústria. Queremos que as pessoas voltem a fazer coisas que façam sentido para o seu dia a dia, sem abrir mão da tecnologia e do design.

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