Mês da Mulher: Isabel Abduch, Business Affairs e Development da MyMama Entertainment
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Como você vê a evolução das mulheres dentro do mercado de comunicação?
“Durante anos, os bastidores do cinema foram dominados por homens. Mas essa história está mudando, ainda que lentamente.
Trabalhando há cerca de 15 anos como advogada de direitos autorais, produtora executiva e Business Affairs na indústria audiovisual, acompanhei de perto a crescente presença feminina no setor. Os números mostram progresso, mas os desafios continuam grandes, principalmente quando se trata de cargos de liderança e direção.
Segundo o estudo Celluloid Ceiling, apenas 16% dos filmes de Hollywood em 2023 foram dirigidos por mulheres. É um avanço em relação a anos anteriores, mas ainda insuficiente para refletir uma equidade real.
Nos grandes festivais internacionais, a disparidade também persiste. No Festival de Cannes, por exemplo, apenas três diretoras venceram a Palma de Ouro em toda a sua história: Jane Campion (O Piano, 1993), Julia Ducournau (Titane, 2021) e Justine Triet (Anatomia de uma Queda, 2023).
O Festival de Veneza também manteve um histórico de poucos prêmios para mulheres em seus 93 anos de existência. Até 2024, apenas seis diretoras conquistaram o Leão de Ouro: Margarethe von Trotta (Os Anos de Chumbo, 1981), Mira Nair (Casamento à Indiana, 2001), Sofia Coppola (Um Lugar Qualquer, 2010), Chloé Zhao (Nomadland, 2020), Audrey Diwan (O Acontecimento, 2021) e Laura Poitras (All the Beauty and the Bloodshed, 2022).
Já o Festival de Berlim se destaca por ser mais aberto à diversidade de gênero, mas a desigualdade ainda é evidente. Em mais de 75 anos de história, apenas sete mulheres receberam o Urso de Ouro: Márta Mészáros (Adoção, 1975), Larisa Shepitko (A Ascensão, 1977), Jasmila Žbanić (Filha da Guerra, 2006), Claudia Llosa (O Leite da Amargura, 2009), Ildikó Enyedi (Corpo e Alma, 2017), Adina Pintilie (Touch Me Not, 2018) e Carla Simón (Alcarràs, 2022).
Essas conquistas são importantes e mostram avanços, mas as mulheres ainda são minoria entre os vencedores das premiações mais prestigiadas do cinema mundial.
A boa notícia é que a pressão por equidade de gênero vem crescendo. Festivais e políticas públicas estão sendo cobradas a abrir mais espaço para mulheres, e a representatividade vem aumentando não só na direção, mas também no roteiro, na produção e na direção de fotografia.
O caminho para um audiovisual verdadeiramente igualitário ainda é longo, mas a transformação já começou. Com comprometimento contínuo, o protagonismo feminino no cinema pode – e deve – se consolidar ainda mais.”