Mês da Mulher: Carina Migliacio, head of Strategy da Purpple
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Como você vê a evolução das mulheres dentro do mercado de comunicação?
“Alguns anos atrás, no Dia Internacional da Mulher, eu fui supreendida ao chegar à agência em que eu trabalhava por uma ação de homenagem às mulheres muito bem-intencionada, na qual todas as colaboradoras eram convidadas a posar para uma foto usando acessórios como estolas de plumas e óculos coloridos em frente a um backdrop comemorativo. Nos anos seguintes, nessa mesma data, recebi junto com outras colaboradoras, batons, flores e outros mimos “de mulher”.
Eu adoro presentes. Mas esses me deixavam confusa, especialmente os que reforçavam estereótipos femininos, em uma data que deveria marcar uma luta por iguais condições de trabalho.
Em 2018, pela primeira vez, percebi uma mudança: a agência em que eu trabalhava distribuiu a todos os funcionários um livrinho de conceitos básicos sobre equidade de gênero. Vi outras medidas conscientizadoras nessa data nos anos que se seguiram em mais agências. E hoje, em março de 2025, fiquei muito feliz de receber um convite abrindo espaço para que eu respondesse à pergunta acima.
Fazer essa retrospectiva pessoal de uma data simbólica me leva a crer que o nosso mercado, ao menos na bolha em que eu me encontro, avança em alguma medida. Entre a foto de backdrop rosa e o espaço para mulheres expressarem suas ideias existe um abismo de compreensão das mulheres no mercado da comunicação.
Mas é claro que estamos muito longe de experimentar uma realidade equânime. Para além de indicadores numéricos, como participação das mulheres na liderança e a disparidade de salários, que para mim são sintomas dolorosos da falta de equidade, existem aspectos muito mais sutis, invisíveis e anteriores a eles, tão naturalizados quanto já foram os presentinhos fofos de 8 de março. Eu me refiro a comportamentos. E, antes de comportamentos, crenças e valores muito íntimos, que continuam presentes na nossa sociedade e, consequentemente, no nosso mercado.
As críticas que descredibilizam as mulheres baseadas em seu corpo, sua idade, sua aparência ou seus atributos positivos, normalmente valorizados quando performados por homens. As mulheres continuam jovens demais para serem levadas a sério. Ou velhas demais para entender o que estão falando. Seguem bonitas demais para terem conseguido essa posição sem terem prestado favores sexuais. Ou feias demais para serem dignas de plena atenção. São produzidas demais para saberem do que estão falando. Ou desleixadas demais para serem verdadeiramente confiáveis. Há também as malucas ou duras demais (que normalmente são as poderosas demais) ou certinhas demais (aquelas que complicam demais). Ser mulher – e sobretudo uma profissional mulher – é sempre perder para essa delirante e implacável tabela de medidas. E não ter escolha, a não ser tentar corresponder a ela.”