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Bola da Vez

Fabio Caveira – diretor de arte da Propeg

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Ele tem mais de 20 anos de carreira, já passou por diversas agências cariocas, algumas que marcaram época, como a Doctor. Em busca de novos desafios e de poder criar para contas grandes e relevantes, Fabio Caveira (como é conhecido) optou por aceitar um convite do mercado de Brasília.

Mesmo sem o glamour do Rio de Janeiro ou de São Paulo, Brasília é um dos maiores mercados publicitários do país em função das contas públicas. Conheça nessa entrevista a carreira do diretor de arte e suas opiniões – com muita personalidade – sobre o mercado publicitário.

Voxnews – Para começar, nos conte sobre a sua carreira.

Fabio Caveira – Bem, eu comecei numa agência chamada Società, onde eu fazia encartes das Lojas Americanas, dia sim e outro também, e foi lá que eu descobri que a vida não ia ser fácil, nada fácil por sinal e que a pizza da madruga ia me acompanhar por grande parte da minha carreira (rs). Depois passei pela Unlike, onde encarei mais varejo pesado e foi quando então pintou uma vaga na Grottera, onde o Sérgio de Paula já tocava o terror e me fez uma proposta pra ganhar R$ 0,00. Aceitei e fui feliz da vida, ali começava minha carreira, marco zero, e a mudança se concretizou de vez ao entrar na Doctor, onde o Marcos Silveira e o Sérgio de Paula tinham a agência mais sem freio que eu já pisei e onde eu conheci e trabalhei com gente muito f*** como Mega, Humberto Fernandez, Álvaro Rodrigues, Edberto Dutra, Adriano Matos, Ricardinho, Luciano “Animal “Gaberel, Fred Moreira, Fernando Freitas, Dani Moura, Nathalie Cazés, Bruno Almeida e Tico Moraes, gente que está “fazendo chover”no Rio, São Paulo e fora do Brasil.

Em seguida pintou a Agência3, onde na época o Alvinho (Álvaro Rodrigues) estava começando um projeto dele e da agência com muita gente boa. Nisso a DPZ me chamou e fiquei por um ano retornando à Agência3 novamente e acontecendo em seguida uma proposta pra Fischer Portugal. Lisboa foi uma experiência que não saiu como o planejado, mas mesmo assim valeu muito a pena e onde trabalhei com pessoas que fazem diferença em qualquer agência – o Diogo Mello, Rodrigo Burdman, Samir Mesquita e meu dupla Sandro Porto, fora os portugueses. Nessa época a crise européia já começava a despontar no horizonte e é o que vemos até hoje.

Voltei então pro Brasil, passei pela Heads e dali para a PROLE, uma das melhores experiências que já tive trabalhando e vi o planejamento estratégico andando colado à criação, nada era feito na base do “eu acho”.
Da PROLE fiz uns freelas e recebi um convite da Borghi/LOWE Brasília, onde fiquei por pouco tempo, recebendo logo em seguida uma proposta muito bacana da Propeg, onde estou hoje.

Voxnews – Você construiu a sua carreira de diretor de arte no Rio. Como foi essa mudança para o mercado de Brasília?

Fabio Caveira – Ao contrário de amigos que foram pra Sampa, preferi investir no mercado do Rio. Só que mercado do Rio já passava por uma crise que não é de hoje e já era anterior àquela época, mas agora me parece bem pior. Você tem muito profissional parado. E é muita gente mesmo, se alguém se der ao trabalho de colocar os nomes um ao lado do outro tem uma ideia do tamanho do problema.

Eu sempre quis trabalhar contas grandes e estruturadas, ideias que tivessem grana para serem produzidas, que tivessem relevância, que falassem com todo mundo. Isso eu não consegui no Rio, o mercado estava cada vez mais essencialmente voltado para o varejo, e um varejo muito pobre, de dinheiro e mais ainda de ideia. Existe um buraco entre as grandes agências, que já não são tantas e as agências pequenas, que abrem a toda hora. E nesse meio ficam vários profissionais sem ter pra onde ir, gente parada vendo o dinheiro do Rio sumir e levando junto os salários de ontem.

Voxnews – E como você enxerga os dois mercados, Rio de Janeiro e Brasília em termos de negócio?

Fabio Caveira – Eu gosto de trabalhar contas públicas e governo. É difícil, é duro? Sim, mas toda conta hoje em dia é. Na Propeg se cobra muito o que está sendo feito e como está sendo feito. O DC, Maurício Passarinho, exige. A Ana Luisa, que é a VP, exige e, por conseguinte, a agência te exige. Parece o óbvio, mas é o que menos se faz hoje e muitas vezes nem se tenta.

Acho engraçado quando me perguntam se o mercado de Brasília é menor que o do Rio. É óbvio que não, é só pegar a calculadora, papel e lápis. As agências de Brasília deixaram de ser meras filiais e hoje tem estrutura completa e investem cada vez mais em pessoal. Você pega a Propeg, a Giacometti, a Borghi, a Heads, a Artplan, por exemplo. A Borghi, só com o faturamento de governo, fez a agência saltar do 15º para o 5º lugar em faturamento, segundo o ranking Intermeios. A Propeg é uma estrutura com mais de 140 pessoas e um faturamento brutal. Se alguém quiser fazer as contas, a SECOM disponibiliza em sua página, quais ministérios e contas públicas são atendidas por quem, quanto cada uma recebe, por qual período e se pode haver renovação de contrato. É simples.

Voxnews – E criativamente?

Fabio Caveira – O Rio já exportou muita gente talentosa, acima da média, mas de novo, hoje você tem pouquíssimas agências fazendo um trabalho bacana de verdade e que crie um ambiente realmente propício a formar novos talentos. Algumas conseguem a duras penas, mas é sofrido. Mas que é visível que o nível caiu. Cheguei a conhecer redator júnior/estagiário que não sabia quem era o Eugênio Mohallen e nem o Rodolfo Sampaio. O Petit morreu? Perguntam…. quem?! Sem memória e sem história você não tem muito futuro. Falta ler mais, falta mais cinema, falta mais vida, faltam referências, dentro e fora da propaganda.

O mercado continua tendo bons criativos, só que começa a ficar difícil manter essas pessoas e a geração que vem na cola. No Rio não se trabalha pouco, pelo contrário, se trabalha muito. Mas se trabalha mal. Sobre Brasília eu não posso falar muito, cheguei agora, mas vejo o pessoal correndo atrás. No outro dia, um coleguinha do Rio, me perguntou, me sacaneando, se o mercado daqui ia ganhar um Leão, rindo de orelha a orelha. Eu argumentei que tinha, naquela hora, um job gigantesco na minha mesa, que era minha prioridade…. Ele respondeu que essa desculpa não colava, queria saber se ia ser Leão.

A diferença do mercado do Rio pra cá é essa. Aqui eu tenho um job, eu disse job, de 10/30 milhões na mesa, e não vou largar pra criar um fantasma pra padaria do Seu Manuel, porque se fizer isso, meu DC me joga do 19º andar. No Rio, tem agências que não faturam nem esse job em um ano, mas sobra tempo pra se enganar criando para clientes muito pequenos e às vezes nem clientes, porque nem verba pra fazer uma simples lâmina o cara tem.

Mas se eu quero ganhar Leão? Quero, mas antes disso tenho que resolver os jobs da minha mesa e ao contrário do que acham, que é fácil criar pra Governo, apresentar anúncio chapa branca é pedir pra tomar esporro. Primeiro faz-se o bom, briga-se, se não der, aí faz-se o melhor que puder e que não te dê vergonha de ver na rua.

Voxnews – O mercado de Brasília é formado, em quase a sua totalidade, por contas públicas. Mesmo sendo contas com grandes verbas ainda há preconceito em criar para esses clientes?

Fabio Caveira – Eu não vejo porque, se eu posso fazer uma campanha que vai impactar todo mundo, falar com quase 100 milhões de pessoas, e, além disso, poder estar ao lado de quem decide, do poder de verdade, porque vou me conformar em falar com meia dúzia de pessoas e o dono da concessionária X achando que sou o maioral por isso?

Voxnews – Brasília é uma cidade formada por imigrantes. Nas agências isso se confirma?

Fabio Caveira – Cada vez mais, acho que é um caminho natural. Meu ex-dupla na Borghi é português, Jorge Teixeira; o DC é de São Paulo, o Carlos Coelho; o Diretor Geral, Hoffman é de Curitiba, se não me engano. Já na Propeg tem gente de Minas, Rio, Bahia. Na Bees tem o Zé Christão que é do Rio e por aí vai. Como o público alvo das contas de Governo é o Brasil, nada mais normal que você tenha gente de todos os lugares.

Voxnews – O que você destacaria nesse mercado?

Fabio Caveira – O profissionalismo que envolve todos os processos do trabalho, mesmo sendo um mercado com gente muito nova, todos estão cientes do que está ali em jogo.

Voxnews – 2014 é ano de eleições presidenciais e os órgãos públicos param de anunciar. Como as agências se estruturam para esse período de “recesso”?

Fabio Caveira – Alguns comunicados do governo continuam existindo, mas pelo que entendi, realmente dá uma diminuída no volume de trabalho, e algumas agências dão um tipo de “licença” para quem estiver em alguma campanha política. Mas vou entender melhor quando chegar a época.

Voxnews – E alguma dica para quem quiser apostar no mercado de Brasília?

Fabio Caveira – Eu acredito que no momento atual, quem está apostando é quem está no Rio, pelo resultado da pesquisa do CCRJ/CONSUMOTECA, vão continuar apostando até não terem mais fichas. Vai sobrar aquele cara, aquele que tem sangue no olho, que faz acontecer, mas que pelo perfil podia estar no Rio, São Paulo, em Brasília em qualquer lugar, e se esse cara não é você, sinto muito, você já perdeu.

Para mim aqui não é aposta, aqui é realidade. Eu não vim à Brasília a passeio, eu vim pra ficar.

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