Camila Fidelis, diretora de RH da Oliver para Latam
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Temas inclusivos, cada vez mais presente em diversos setores da sociedade, as agências de publicidade e comunicação que apresentam tendências ao público consumidor, devem se mostrar engajadas quando se trata de diversidade. Na Oliver, nasce o Projeto Conexão, que convida mulheres negras para um programa de desenvolvimento profissional, totalmente gratuito.
Para falar sobre esse momento e detalhar o projeto, o VoxNews conversou com Camila Fidelis, diretora de RH da Oliver. Confira.
VoxNews – Como surgiu a ideia por trás do “Projeto Conexão” e qual é o objetivo principal dessa iniciativa?
Camila Fidelis – A ideia nasceu a partir de uma análise minuciosa de dados, especialmente olhando para mulheres negras no Brasil. Um dos que mais nos chamou atenção é de uma pesquisa da média da remuneração da mulher negra brasileira, que é de R$ 1.948. Essa pesquisa foi elucidada em 2023 pelo IBRE/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mostrando o quanto é ampla a desigualdade de renda no País. Imaginando uma pirâmide, teríamos na base a mulher negra com essa média de remuneração, de R$1.948. Acima, os homens negros, recebendo 20% a mais e, depois as mulheres brancas, com 48% a mais. No topo, os homens brancos, com 68% a mais da remuneração das mulheres negras no Brasil – R$ 3.272. Ou seja: a desigualdade é gritante, em todas as áreas da empregabilidade.
Quando olhamos para o mercado de comunicação, dados de Censo de Diversidade nas agências brasileiras, realizado em 2023 pela ODP (Observatório da Diversidade na Propaganda) e Gestão Kairós. A pesquisa revela 30% de pessoas negras nas agências e, dentro dessa porcentagem, 21% são mulheres negras. Após estudo desse censo, em todos os níveis de hierarquia, fica claro que as mulheres negras são sub-representadas. Em nível de alta liderança, esse índice é quase inexistente.
Nosso objetivo é ajudar a mudar esse cenário ao trazer para esse projeto mulheres cis, trans e identidades femininas que querem atuar no mercado de comunicação, especialmente em áreas que tem maior rotatividade, como mídia, BI (business intelligence) e criatividade.
VoxNews – Como a Oliver Latin America pretende garantir que o “Projeto Conexão” promova um ambiente inclusivo e equitativo para as mulheres negras participantes?
Camila Fidelis – Esperamos dar maior visibilidade para essas pessoas conseguirem recolocação no mercado de comunicação, além de olharmos mais para dentro, para nossas posições e vagas. Como o próprio nome do projeto sugere, a ideia é que as pessoas aumentem seu networking com outras empresas e agências, assim como com pessoas que possam ajudar a impulsionar suas carreiras. Entendemos que essa formação é um início para promover mais segurança para essas mulheres se candidatarem às vagas e para que elas possam ter acesso a novas oportunidades, além de se conectar com outras esferas para conseguir uma recolocação. Enfim, o nosso maior objetivo é apoiar e ajudar na empregabilidade.
VoxNews – Quais são os principais desafios que vocês preveem enfrentar na implementação do “Projeto Conexão” e como planejam superá-los?
Camila Fidelis – O maior desafio é proporcionar esse momento para as pessoas que participarão do projeto, porque muitas vezes elas não têm um bom acesso à internet ou um bom computador. A questão do horário no qual acontecem as aulas também pode ser um desafio. Nossa ideia é sermos muito ativos, escutando as pessoas no processo seletivo e entendendo quais são as dificuldades para que elas possam participar.
A ideia é evitar ao máximo a evasão das alunas, proporcionando essa participação com uma boa conexão de internet e computador. Tanto que, nas entrevistas e conversas iniciais, já vamos entender as maiores dificuldades, apoiando todas as pessoas.
VoxNews – Qual é a importância de parcerias, como a com a SOMOS B – Consultoria, para o sucesso do “Projeto Conexão”?
Camila Fidelis – A Somos B é uma consultoria que traz uma visão e um conhecimento muito amplo sobre o mercado e das condições sociais desse público. Um dos exemplos que eles trazem é sobre as pessoas que atuam ou estudam Publicidade ou Comunicação. Muitas vezes elas não têm nenhum contato com a área, e nem mesmo os docentes de faculdades – que não são da chamada “primeira linha”, não têm contato prático com as agências.
Isso é um dado importante que nos impulsiona e direciona a formar as aulas e trazer o projeto também para uma visão mais prática. Para isso, pretendemos promover visitas nas agências e na própria Oliver, promovendo experiência prática sobre essa rotina e fazendo com que elas entendam sobre publicidade muito além do conceitual, vendo como tudo se concretiza na prática por meio de cases e conversas com os clientes.
VoxNews – O que os participantes do “Projeto Conexão” podem esperar em termos de desenvolvimento profissional e pessoal ao longo do curso?
Camila Fidelis – Esperamos que as alunas tenham uma ampla visão de como funciona o mercado de comunicação do dia a dia. Que entendam caminhos para conseguir aumentar networking, não só se desenvolvendo, mas também se recolocando no mercado. Nosso apoio é totalmente focado na empregabilidade dessas mulheres, porque sabemos como é precária essa representatividade.
O que podem esperar é nosso apoio por meio de conexão com outras agências e empresas. E, claro, um desenvolvimento de qualidade. Os professores selecionados são líderes da Oliver, que estão envolvidos nos trabalhos que a empresa cria para seus clientes. Os melhores professores e mentores possíveis.
VoxNews – Como a Oliver Latin America pretende medir o impacto do “Projeto Conexão” na vida e carreira das mulheres negras participantes? Há alguma meta a ser atingida?
Camila Fidelis – Nossa meta é que, até o final do curso, as pessoas estejam direcionadas e participando de algum processo seletivo no mercado de comunicação, que já estejam em conexão com outras agências e até dentro da própria Oliver ou dos nossos clientes. Vamos oferecer uma formação de qualidade para que elas também consigam, por meio dessa conexão e desenvolvimento, uma boa recolocação no mercado.
VoxNews – Quais são as expectativas em relação ao programa de Mentoria “Raízes: Crescendo Juntas” e como ele se diferencia de outras iniciativas similares?
Camila Fidelis – Sobre o programa Raízes: Crescendo Juntas, o foco é também na carreira das mulheres negras que trabalham na Oliver. O primeiro ponto importante é o apoio à visão delas em relação a não estar sozinhas. No primeiro encontro elas revelaram que não sabiam quantas mulheres negras existiam na agência e, a partir daí, começaram um trabalho de reconexão, trazendo um pouco das suas dores e anseios.
O projeto é focado em mentoria, com seis encontros em parceria com a consultora Ana Minuto, nos quais elas são convidadas a se olharem, entenderem como se veem dentro do mercado de comunicação, na carreira e o que querem desenvolver. Sabemos que esse autoconhecimento é importante para impulsionar a carreira e a mentoria proporciona isso, com momentos de reflexão essenciais para que elas tenham claro seus caminhos e objetivos – pessoais e profissionais – para então trilhá-los e alcançar esses objetivos.
Nosso foco é dividido em duas partes: Interação, mostrando que elas não estão sozinhas nesse barco; e Autoconhecimento, para que elas se desenvolvam tanto na carreira quanto em seus objetivos pessoais.
VoxNews – Como será o processo de seleção do “Raízes: Crescendo Juntas”?
Camila Fidelis – O projeto Raízes, Crescendo Juntas já está em andamento. Fizemos um convite para todas as mulheres negras da Oliver – e aquelas que acreditam que olhar e impulsionar a carreira faz sentido nesse momento aceitaram o convite.
VoxNews – Existem outros projetos inclusivos na Oliver Latin America? Caso sim, quais?
Camila Fidelis – Na verdade, desde o ano passado, a Oliver vem reforçando e estruturando uma estratégia de diversidade e inclusão. Esse processo teve início em meados de outubro por meio de uma palestra para o board, mostrando para a alta liderança o cenário da Oliver frente a questão DEI da sociedade, apresentando nosso cenário em relação a representatividade.
Tendo essa consciência, nós do board decidimos alguns objetivos a serem trabalhados em 2024, com apoio dos grupos de afinidade da Oliver. Entre eles, raça, pessoas com deficiência, neurodiversidade, de gênero e afeto. Esses grupos trabalham para alcançar os objetivos traçados pelo board, tendo como uma das funções, por exemplo, a elaboração de treinamentos e letramentos de acordo com suas necessidades, a fim de promover conhecimento de conceito e social para toda a equipe, envolvendo nossa empresa e indústria.
Até o final do ano, pretendemos revisitar os objetivos e entender o que conseguimos cumprir de compromisso este ano. Vale ressaltar que toda essa estrutura só foi possível e viável por conta do envolvimento da alta liderança da empresa e do CEO da Oliver, Luis Constantino.