Douglas Bocalão, sócio e COO da ampfy – “PerifaCriativa desafia o mercado e mostra que talento não tem CEP”
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Mais do que um programa de formação, o PerifaCriativa vem se consolidando como um movimento de transformação estrutural no mercado publicitário. Desde sua criação, o projeto já formou 50 alunos e empregou mais de 10 profissionais, mas seu impacto vai além dos números. Ele provoca o setor a repensar seus filtros de seleção e o compromisso com a diversidade real.
Abaixo, uma conversa com Douglas Bocalão, sócio e COO da ampfy, e um dos coordenadores da iniciativa.
VoxNews – Desde a primeira edição, o PerifaCriativa já formou 50 alunos e resultou na contratação de mais de 10 profissionais. Como vocês avaliam o impacto desses resultados no mercado publicitário?
Douglas Bocalão – O impacto do PerifaCriativa vai além dos números, embora formar 50 alunos e empregar mais de 10 deles já represente uma conquista significativa. O maior legado está na ruptura de um padrão estrutural que há décadas restringe o acesso de talentos periféricos ao mercado publicitário (e mercado em geral).
Ao inserir jovens periféricos nesse ecossistema, o programa não apenas oferece oportunidades concretas, mas também provoca o mercado a repensar seus filtros de seleção, suas referências culturais e seu compromisso com a diversidade real.
É um projeto que injeta vida nova na indústria criativa, trazendo visões autênticas, pluralidade de vivências e potência de pensamento que só quem cresceu enfrentando desafios reais pode oferecer.
VoxNews – Que histórias de sucesso ou trajetórias de alunos formados pelo programa vocês destacariam como exemplos de transformação pessoal e profissional?
Douglas Bocalão – Há trajetórias que nos marcam profundamente. Como a de um aluno que entrou no curso com insegurança sobre seu potencial criativo, alguém que não se via como “publicitário” porque nunca teve acesso a referências, formação ou modelos de carreira. Ao longo do programa, esse mesmo aluno descobriu sua vocação, aprendeu a defender ideias com clareza, e hoje trabalha na ampfy. A verdade é que temos 10 histórias como esta, de pessoas que nem se imaginavam trabalhando em um escritório na Vila Madalena, e hoje estão em grandes agências.
Dentro da ampfy já empregamos alunos no Atendimento, Administrativo Financeiro e Criação.
VoxNews – Como os feedbacks das agências parceiras e dos alunos das edições anteriores influenciaram o desenvolvimento da 3ª edição?
Douglas Bocalão – Um dos principais aprendizados das edições anteriores foi que tão importante quanto as disciplinas técnicas é a preparação emocional e comportamental dos alunos para enfrentar o mercado. A formação criativa não pode ignorar o impacto psicológico que o ambiente corporativo, muitas vezes hostil ou excludente, pode ter sobre quem vem da periferia.
Recebemos relatos sinceros dos próprios alunos sobre inseguranças durante entrevistas, dificuldades de adaptação a códigos de conduta que não dialogam com sua realidade e, principalmente, sobre o peso do preconceito (às vezes velado, às vezes explícito) dentro do ambiente profissional.
Diante disso, a 3ª edição trouxe um reforço intencional nas aulas voltadas para comportamento, RH e orientação profissional. Aprimoramos os conteúdos sobre como elaborar um currículo estratégico, como se posicionar em entrevistas, como buscar oportunidades e, sobretudo, como lidar com os desafios emocionais que surgem nesse processo.
É um olhar mais humanizado e integral sobre o desenvolvimento dos alunos, pois preparar para o mercado não é apenas ensinar ferramentas, mas também fortalecer a autoconfiança e a resiliência de quem, muitas vezes, já enfrentou portas fechadas por motivos que nada têm a ver com sua capacidade.
Essa evolução reflete o compromisso do PerifaCriativa em formar profissionais completos: tecnicamente competentes, mas também psicologicamente preparados para ocupar, e transformar, os espaços onde antes não se viam representados.
VoxNews – Vocês têm dados sobre a evolução profissional dos participantes que não foram contratados pelas agências parceiras? Eles conseguiram oportunidades em outras empresas do setor?
Douglas Bocalão – Sim, temos acompanhado com atenção o caminho dos egressos, mesmo daqueles que não foram diretamente absorvidos pelas agências parceiras. Muitos seguiram buscando oportunidades em produtoras, coletivos criativos, startups e até como freelancers ou empreendedores.
O que percebemos é que o PerifaCriativa tem um efeito multiplicador. Ele desbloqueia não só habilidades, mas principalmente a autoconfiança. Muitos alunos relatam que, depois do curso, passaram a se ver como profissionais criativos, e isso por si só já muda a forma como eles se posicionam no mercado.
Inclusive, temos uma página com alguns dos alunos que ainda não conseguiram emprego no mercado publicitário: https://perifacriativa.trampos.co/
VoxNews – Quais aprendizados das edições anteriores ajudaram a aprimorar a metodologia, a grade curricular e o acompanhamento dos alunos nesta nova edição?
Douglas Bocalão – Alguns aprendizados foram cruciais. O primeiro foi perceber que formação técnica, por si só, não basta. Era preciso trabalhar também autoestima, repertório e capacidade de leitura crítica do mundo, porque a publicidade precisa de pessoas que pensem, não apenas que executem.
Por fim, reforçamos o acompanhamento pós-curso, entendendo que a jornada não acaba com a formatura. Seguimos apoiando os alunos com indicações e networking, porque transformar realidades exige presença contínua, não apenas intenção.
