Duas produtoras com trajetórias marcadas por narrativas potentes e engajadas uniram forças para criar um espaço de criação no audiovisual brasileiro. Da parceria entre a Viralata e a Lascene nasce o Núcleo de Criação e Desenvolvimento, um braço estratégico voltado para histórias que combinem identidade, diversidade e potencial de circulação.
À frente da iniciativa ao lado de Vanessa de Araújo Souza, Gabriel Corrêa e Castro fala ao VoxNews sobre os princípios que norteiam o núcleo, o cuidado com a origem das ideias e o desafio de equilibrar ambição artística com vocação de mercado. Para ele, um bom projeto já nasce com respostas claras, não só sobre formato e público, mas também sobre propósito.
VoxNews – O novo Núcleo de Criação e Desenvolvimento nasce de uma parceria entre duas produtoras que já têm trajetórias consolidadas. O que motivou esse movimento agora e qual lacuna vocês querem preencher no ecossistema audiovisual?
Gabriel Corrêa e Castro – O núcleo nasce de uma convergência natural entre a produtora Viralata e a Lascene, duas produtoras que compartilham valores fundamentais e um histórico consistente na defesa de narrativas ligadas a questões raciais, de gênero e identidade. Já vínhamos colaborando pontualmente, mas percebemos que havia espaço para criar uma estrutura permanente de desenvolvimento, com inteligência estratégica e curadoria afinada. A decisão de formalizar essa parceria vem de uma urgência do próprio mercado: há uma demanda crescente por projetos que unam relevância temática com consistência narrativa desde a origem. Nosso objetivo é ocupar esse espaço fortalecendo a etapa de desenvolvimento como um processo criativo, ético e já alinhado com os desafios de financiamento, distribuição e impacto social.
VoxNews – Vocês falam muito sobre “consistência narrativa” e “relevância temática”. Como essas diretrizes se traduzem na prática do desenvolvimento de um projeto, desde a ideia até a formatação final?
Gabriel Corrêa e Castro – Para gente, consistência narrativa e relevância temática não são só metas técnicas. São compromissos que atravessam todo o processo criativo. No desenvolvimento de um projeto, a pergunta que sempre nos guia é: vamos ter orgulho dessa obra daqui a alguns anos? Se a resposta for sim, esse é o sinal de que vale a pena investir tempo, escuta e profundidade. Esse é um passo quase mágico, porque quando a gente se conecta com esse orgulho futuro, tudo se alinha: a escolha da equipe, o tom da narrativa, as decisões de linguagem. A consistência vem dessa coerência entre forma e intenção. E a relevância nasce da nossa responsabilidade com os temas que escolhemos e com o modo como eles dialogam com o mundo.
VoxNews – O núcleo tem como um dos focos pensar obras com potencial para circular em diferentes plataformas e contextos. Como vocês equilibram essa vocação de mercado com a preservação da identidade e da autoria das narrativas?
Gabriel Corrêa e Castro – Acreditamos que pensar no mercado não significa renunciar a identidade ou autoria. Pelo contrário. O que diferencia um projeto no ambiente competitivo de hoje é justamente a força da sua visão, da sua integridade. Sim, estamos buscando projetos com potencial comercial e que dialoguem com múltiplas plataformas, mas sempre nos perguntamos se, de alguma forma, eles estão alinhados com os valores que nos trouxeram até aqui: diversidade, representatividade e impacto social. Nosso trabalho no núcleo é encontrar esse ponto de equilíbrio onde forma, tema e estratégia caminham juntos, sem que um anule o outro. E isso começa na base: no cuidado com a origem da ideia, com quem está contando aquela história e por quê.
VoxNews: A Viralata e a Lascene já têm histórico em produções que abordam raça, gênero, identidade e território. Como esses pilares se mantêm presentes nos projetos futuros e que novas camadas vocês querem explorar agora?
Gabriel Corrêa e Castro – Esses pilares continuam sendo o nosso eixo. Não é algo pontual, nem estratégico, é estrutural. A gente entende que raça, gênero, identidade e território não são temas para serem tratados de forma episódica ou oportunista. São dimensões que atravessam a forma como olhamos o mundo, como montamos equipes, como escolhemos histórias e com quem escolhemos contá-las. O que buscamos agora é aprofundar essas abordagens com mais complexidade e abrir espaço para novas camadas como a interseção com juventude, inovação estética, narrativas afetivas e até humor. A ideia é continuar avançando sem perder o centro: seguir tratando de questões urgentes com linguagem potente, mas também surpreender, provocar, emocionar.
VoxNews – Qual o tipo de estrutura e estratégia vocês acreditam que o mercado exige hoje de uma produtora para que um projeto se destaque desde o desenvolvimento?
Gabriel Corrêa e Castro – Hoje, o mercado exige que o projeto chegue à mesa já com muita coisa resolvida: uma proposta criativa clara, viabilidade orçamentária, estratégia de posicionamento, equipe coerente com o tema. Não dá mais para desenvolver projetos de forma isolada ou amadora. É preciso estrutura, sim. Mas também escuta, diversidade de olhares e inteligência coletiva. Por isso criamos esse núcleo: para que o desenvolvimento seja uma etapa sólida, onde o projeto já nasce com consistência estética, relevância temática e um plano real de produção e circulação. Um projeto bem desenvolvido se destaca porque ele já traz, desde o início, a resposta à pergunta que todo player faz: por que essa história precisa existir agora?