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Bola da Vez

Lenin Lima – diretor de Criação da Agência UM

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Pernambuco, a terra de João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga, Lenine, Alceu Valença, Chico Science, Naná Vasconcelos, Abelardo da Hora, Cícero Dias, entre outros, também nos revela diversos talentos da publicidade brasileira. Hoje conversamos com Lenin Lima, diretor de Criação da Agência UM, que ganhou aos 9 anos como prêmio em um concurso literário “Iracema”, livro de José de Alencar.

 

Ilustrador por formação, Lenin destaca uma linguagem bastante própria na publicidade pernambucana – exportadora de grandes talentos. “Temos uma vantagem em relação a outros mercados no Nordeste, que é trabalhar com muitos outros profissionais como produtores e diretores que fazem cinema e também filmes publicitários”, enfatiza. Confira o bate-papo.

 

VoxNews – Como começou na propaganda?

 

Lenin Lima – Ah, isso tem bastante tempo. Digamos que na época em que os computadores eram do tamanho de armários gigantes e Steve Jobs, junto com o Wozniak, ainda rascunhavam o que viria ser uma revolução.

 

 

VoxNews – Como se descobriu um criativo?

 

Lenin Lima – Na minha opinião, o brasileiro não descobre a criatividade – já nascemos assim, um povo genuinamente criativo. Isso tem muito a ver com as nossas raízes, nossa cultura, nosso estímulo à diversidade. Em algum momento de nossas vidas, essa carga toda se revela de maneira diferente para cada um. Acredito que tudo isso faz dos publicitários criativos brasileiros, um dos mais respeitados do mundo.

Desde cedo já rabiscava algumas garatujas e também escrevia.

​Minha mãe me inscreveu em um concurso literário quando tinha apenas 9 anos. Um livro de José de Alencar (Iracema) foi o primeiro prêmio que ganhei. O segundo, uma bolsa para entrar numa escola de arte da prefeitura. Entrei na publicidade como ilustrador, depois segui como diretor de arte, redator e já há algum tempo a missão é a direção de criação.

 

 

VoxNews – Pernambuco é um celeiro de criativos e boa propaganda. Qual a sua opinião sobre isso?

 

Lenin Lima – Pernambuco é a terra de João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga, Lenine, Alceu, Chico Science, Naná Vasconcelos, Abelardo da Hora, Cícero Dias. Essa imensa herança de artistas, escritores, músicos, poetas, dramaturgos, serve como um conjunto de referências/experiências acumuladas que, de certa maneira, influencia o publicitário pernambucano. De alguma forma há essa herança nordestina e uma certa curiosidade para quem vê de fora, o que temos a partilhar e o pedaço de mundo que trouxemos para mostrar.

 

 

VoxNews – O Brasil é um país continental, com diversas linguagens para cada região. O que você destacaria na propaganda feita em Pernambuco?

 

Lenin Lima – É um pouco paradoxal, pois enquanto queremos aproximar o trabalho que se faz aqui do das grandes agências, o que se destaca, de fato, é essa linguagem muito própria nossa de fazer publicidade. Além disso, temos uma vantagem em relação a outros mercados no Nordeste, que é trabalhar com muitos outros profissionais como produtores e diretores que fazem cinema e também filmes publicitários. Isso viabiliza vários trabalhos que, de outra maneira, só seriam produzidos em mercados como São Paulo, com verbas muito maiores.

 

 

VoxNews – Por que a propaganda brasileira é tão reconhecida no exterior? 

 

Lenin Lima – De fato, pela capacidade criativa de inovar. Todos os anos, nos maiores festivais publicitários do planeta, os brasileiros se destacam. São trabalhos realizados ou por criativos em agências brasileiras ou em outras agências que estão nos principais mercados publicitários do mundo. E a cada ano, vemos brasileiros em posição de liderança nessas agências e não apenas subordinados ao comando de um board criativo de língua inglesa.

 

 

VoxNews – Você esteve em Cannes esse ano. O que viu de diferente? O que poderíamos aplicar na propaganda brasileira?

 

Lenin Lima – Muita coisa me chamou a atenção, mas a principal delas é a percepção cada vez maior de que, em breve, o mercado publicitário mundial ficará nas mãos de apenas alguns players. Como disse o CMO da Unilever, “onde minha audiência estiver, é para lá que vai o meu dinheiro”. A palestra do Scott Galloway parece que foi a sensação do Palais. Scott fundou uma empresa de metodologia de excelência digital e subiu ao palco para falar que a Amazon vai engolir não só o varejo inteiro, mas também as empresas de CPG. Quem mais tem coragem de dizer que os verdadeiros concorrentes das agências são o Google, a Amazon, o Facebook e a Netflix? Ainda bem que ele tem um canal do YouTube e que a apresentação dele já ficou disponível no app de Cannes.

 

VoxNews – O que te mais encanta na propaganda?

 

Lenin Lima – Esse movimento, da mesma forma que me incomoda um pouco, também me anima porque traz uma alternativa muito legal para os criativos da nossa indústria, que estão se sentindo subvalorizados. Agora poderemos passar a criar filmes e séries inteiras para suas marcas ao invés de apenas reclames de 30 segundos. Não é um mundo maravilhoso?

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